tentativa de sepultar as
sombras de pessimismo
Na dimensão de um destino, encontram-se reverberações distintas. De um
lado, projetos de certeza, solidez de escolhas. De outro, coágulos de medo e
insólitas precipitações. Até aí tudo humanamente aceitável. O nó estrutural
disso tudo é que parece ser inatingível e irrevogável.
De repente, o saber a hora exata
para atuar transforma-se em alta muralha de aprisionamento. Aí começam os
problemas! Aquela famosa liberdade evocada por uma performance é, geralmente, ilusória,
já que a liberdade propriamente dita desmereceria toda e qualquer representação.
O público não iria esperar. Estaria na arena, junto aos leões do improviso e do
agora.
Assim sendo, definir a composição da personagem, a um determinado sinal e
não mais que de repente, logicamente pode passar a ser tarefa penosa... Obrigação
implacável. Isso mesmo! Implacável! Caminhos humanos de qualquer espécie parecem,
frequentemente, possuir irônicos revestimentos. Talvez, o ponto da questão não
esteja relacionado aos caminhos. Talvez seja referente, diretamente, à
incapacidade de paciência dos autores perante o inesperado, o que justificaria o
surgimento dos abismos da precocidade ou, melhor dizendo, o nascimento dos caóticos
disfarces de conformismos. Nesse enredo enfadonho, foram jogados ao vento
quantos parágrafos subestimados?
Ah! A essa altura, indiscutivelmente, a circunferência da vida já foi
alterada, o apenas aparente já foi gerado e o espetáculo da intenção, num
piscar, desenhou o estreito corredor da efemeridade... A estagnação de pensar
saber o que seria “melhor”, nesta ou naquela performance, perseverou sobre a
tímida intuição da verdade íntima. Um racionalismo irritante e limitado esmagou
qualquer pretensão de espontaneidade e fluidez. Sim! O essencial foi desvalorizado
e esquecido, já que o típico automatismo passou a reger a sinfonia da
existência com a tenacidade de um déspota maestro de superficialidades!
Rendidos! Autores-atores rendidos. Simples assim! O
patético nisso tudo é: o próprio enredo, com todas as suas prendas, parece
nunca ser suficiente, e performances seguem sendo impostas como únicas opções.
O interessante nisso tudo é: toda e qualquer performance possui um calcanhar de
aquiles chamado tempo que, por
sinal, se desdobra e acaba transformando-se em “tempo certo”. A duração da performance é destinada à mutabilidade
e, em momentos de variação e descuido, o destino, fatalmente, surge no
horizonte de todas as contradições e a despeito de todas as suposições
pré-estabelecidas...
O que se considerava importante
perdeu terreno de uma vez por todas, porque a surpresa de uma singela revelação
cresceu e iluminou, com toda a simplicidade de um despertar, o que estava
obscuro. É como quando se está na chuva:
o guarda-chuva pode até estar aberto; entretanto, isso não impede que braços e
pés sejam molhados. O guarda-chuva não garante absolutamente nada. Na verdade, a
performance não consegue nem mesmo preservar sua própria imposição. Garantias não
existem em parte alguma... Na próxima esquina, o guarda-chuva vai ser deixado
na primeira lixeira. Vai ser melhor caminhar sem aquela falsa proteção. Pagar
para ver pode ser mais encantador...
Quem foi que disse mesmo que a chuva estava fria? Não... a sutileza de
cada gota d’água sobre a face trouxe a doce descoberta de um existir, sem a
necessidade de mais nada. E aí, diante dos olhos, surgiu a tão sonhada sensação
de completude! Chega um tempo em que
se compreende que caminhos edificam apenas jornadas; não destinos. Destinos
são, inevitavelmente, as pontes construídas por nós mesmos rumo a tudo que
amamos!