quarta-feira, 26 de setembro de 2012


ENTENDIMENTO
















Promessa ou especulação?
Alívio ou consolação?
Na descoberta da paisagem
Muito se admira
Uma miragem...
Ilusão é passageira
Ingrata carcereira
Em noites de cegueira
Em dias de escuridão
Não se sabe bem ao certo
Se renúncias vêm de perto
Ou se partem em direção
 Ao tudo
Que nada é
Ao nada
Que tudo é
Diga-se de passagem
Em estrada de irrealidade
Liberdade vai embora
E bem nesta hora
Caminhar não é prioridade...
Meio do caminho
Traslado de espinho
Um insensato moinho
De águas passadas
Represadas
Aguadas
Isoladas
Estancadas
Em poço de desilusão
Nunca mais se acredita
Em história descabida
Em desculpas de alegrias
Em falsa perfeição...
Começo também tem fim!

(Ana Paula da Silva Santos)














terça-feira, 11 de setembro de 2012




Espelho de uma face

Preferes cara ou coroa?
No vai e vem daquele trem
Não para gente, não para estação
Esperança se admira
Com disposição
Um broto
Uma espera
Uma afeição...
Na janela da cabine
Saltam flores
Passa vagão...
Só não salta
Olhar perdido
Desencanto recebido
Depois de compreendido
Que tempo perdido
Não é resolução...
No limbo do entendido
Começar de novo
Tem sim e tem não
E nesse passar de transição
Retinas de sul
Visões de norte...
Mas no centro do oeste
Leste não tem sorte
E noroeste não tem
Nem passa nem porte...
Quisera assim perdida de mim
Encontrar alegria, comunhão
Mas a vida acordou dizendo
Que um quase querendo
Não pode ser recomendação
Querer é por inteiro,
É contraste, mas é união...
Ninguém vive ao pé do leito
De flores em botão...
Maturidade vem com o mensageiro
Que trouxe a explicação:
Arco-íris de primaveras
Não causa expiação
Mas lição aprendida
Fica na estrada da vida
Entre o sim e o não
Dualidade passageira
Se persegue e se rejeita
O medo...
A desilusão...
Covardia não tem preço
Na verdade da intenção
Força só se sente
Quando espelho
Frente a frente
Esmaga a projeção...
Face adormecida
Prisioneira nessa vida
De olhar sem direção
Rosto revela tudo
Nada de compreensão
Espelho de uma face
Se esparrama pelo chão
Quebra a tristeza
De incerteza e submissão
Espelho de uma face
Se esparrama pelo chão...
Quem pode ser mais bela
Que essa doce sensação?
Liberdades descobertas
No infinito da canção?
Imagem e reflexo
Numa bolha de sabão?
Surpresa de herança
De quem guardou um coração
Em colina de perseverança
Cintila a mudança
De quem descobriu
A criança
Na andança
Da lembrança
Que intuiu:
História só se escreve
Quando se percebe
Que pressentir
   Não é cumprir...
Num mistério,
Num castelo ,
Num sorriso...
Piscadinha e olhadela
Só mesmo em valsa de cinderela!
O desenho em tela
verdadeira aquarela...
Entre um suspiro e um encanto,
O lugar do sem-espanto:
Simplicidade não é estação.
É moradia... é decisão!


(Ana Paula da Silva Santos)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012






















Relicário
 Ana Paula da Silva Santos

A espera existe ou é quimera?
Diante da eternidade
Pedrinha no caminho
Não ladrilha escuridão
Consome pensamento
E, se jogada ao relento,
Rala e rola o coração...
A memória não transmuta
Nem desejo nem invenção
Só traz imagem...
Apaga som...
Destrói castelo...
Planta ilusão...
Em canteiro de crisântemo
Buganvília não faz canção...
Pedrinha vai descendo
Rala e rola na estação...
Melodias de sonetos
Bem-me-queres de intuição
Na magia daquele beco
O mais profundo da imaginação
Um fim de tarde
Um adeus sem fim:
Carinho só se pede
Depois que se conhece
Um azul e um serafim...
Abraço só se ganha
Quando muito não se estranha
No aperto de vontades
O querer e a emoção...
Beijinho é só no rosto,
Sapatinho é de cristal,
Fita verde prende o cabelo
Da menina no roseiral...
Vento e ventania,
Tempo sacudido,
Missal desfolhado...
Uma ladainha de euforia
Com gratidão e harmonia
Desencontro anuncia:
Passado só existe,
Quando ontem e anteontem
Não mais fazem verão...
Encontro só acontece
Porque o amanhã permanece
E menina só cresce,
Porque da doçura se enternece.
Com um voo de borboleta,
Contempla e faz uma prece:
Diante dos dias, das idas e vindas,
Tudo de repente se esclarece!
Espera é a desculpa
Que a vida inventou
Para o mistério do encontro
De flor e beija-flor.
Enfim, libertação!





sexta-feira, 7 de setembro de 2012



Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo. 


(Adélia Prado)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012





 

















 
O infinito da busca

Conheces o caminho que desejas?
Salutares são os poentes da vida
Guardam imagens de retinas distraídas,              
Aspiram por conspirações lunares,
Lembram suspiros recortados,
Emoções escondidas,
Sonhos realizados,
Fantasias subestimadas,
Encontros gravados...
Na espaço
Da causa
Do efeito
Da súplica
Da graça
Do encontro...
Conheces o encontro que desejas?
Irremediáveis são as intuições
Procuram por acordos firmados,
Contemplam suavidades esperadas,
Pinturas de véu e de esquecimento,
Esculturas mágicas de recompensas,
Previsibilidades agendadas,
Grafias de percurso...
No princípio
Da vida
Da aliança
Da escolha
Da predestinação
Da história...
Conheces a história que desejas?
Singelos são os sinais,
Por pouco não percebidos,
Concedidos em ventos e temporais,
Recebidos em versos paradoxais,
Embaçados por olhos bifocais,
Confissões estrelares,
Prendas divinas,
Deleites da canção...
No som
Da conquista
Da verdade
Da realidade
Da profundidade
Do sentimento...
Conheces o sentimento que desejas?
Abençoadas são as imagens
Do espelho
Do riacho
De águas
De lágrimas
Inebriam as virtudes,
Apagam as confusões,
Desatam os desentendidos,
Descolorem os enganos,
Ensinam a sonhar...
No desabrochar
Da esperança
Do monólogo
De solidão
Um dia
Quem sabe?
Tocar
Bem fundo
Um coração!
Atemporalidade tem nome.

(Ana Paula da Silva Santos)





Perfeição

Num momento qualquer,
Cai folha,
Cai gota,
Escorre orvalho,
Sentes a presença
Daquele que a saudade
Trouxe,
Num instante,
De volta...
Perdoo-te tanto
Que te desejo,
Na partida,
No recomeço,
Encontro com papel em branco
Para que componhas sua nova história:
Eternidade hoje é seu lugar...
Coração pulsante
Sabe, sempre de repente,
Sonhar e reencontrar,
E, com cantigas de ninar,
Embalar lembranças
De uma vida de esperanças
Olhar adiante,
Tocar em frente,
Horizonte só existe
Para quem aprendeu a acreditar!

(Ana Paula da Silva Santos)

terça-feira, 4 de setembro de 2012






A catedral do horizonte

Já lhe foi declarado o improvável?
No meio dos bandolins,
Louvor e devoção
Decisão não faz calar...
Do sentimento, a força;
Da intimidade, a vontade;
Do encontro, a necessidade...
Um olhar peregrino
Um tocar silencioso
Semente ao relento
Pouso adiantado
Arado de cuidado.
Na horizontal, contradição.
Lago em gelo fino
Superfície e aparência.
Na vertical, comunhão.
Pérola negra em oceano de cristal
Profundidade e sutileza.
Flor de esperança
Só se colhe em meio aos espinhos da rendenção...
Campo de lírios brancos
Só se planta em raridades confiáveis...
Jardim de maravilhas
Só se cultiva no desaguar da entrega...
Aconchegar uma alma
É de dentro enxergar
Areia fina a desprender-se
Na ampulheta do tempo;
Aurora de sorrisos
Ao espelho surpreender,
De súbito, um vendedor de cores.
Destino não é o que se pinta,
É pincel que guia a mão
Ao não que ao sim conduz
Trem e estação...
Depois das ofertas de inverno,
Escolhas em primaveras:
Não secar a primeira lágrima,
Não esgotar seiva de alegria,
Não debulhar sobre o peito
Um “se” da mente
Uma dúvida latente
E um talvez descontente.
Sentimento não tem hipótese
Sonho não se mensura
Horizonte brota sem pedir licença
E renasce sem a culpa de iluminar a imensidão!

(Ana Paula da Silva Santos)