sábado, 8 de dezembro de 2012



tentativa de sepultar as sombras de pessimismo

Na dimensão de um destino, encontram-se reverberações distintas. De um lado, projetos de certeza, solidez de escolhas. De outro, coágulos de medo e insólitas precipitações. Até aí tudo humanamente aceitável. O nó estrutural disso tudo é que parece ser inatingível e irrevogável.
 De repente, o saber a hora exata para atuar transforma-se em alta muralha de aprisionamento. Aí começam os problemas! Aquela famosa liberdade evocada por uma performance é, geralmente, ilusória, já que a liberdade propriamente dita desmereceria toda e qualquer representação. O público não iria esperar. Estaria na arena, junto aos leões do improviso e do agora.
Assim sendo, definir a composição da personagem, a um determinado sinal e não mais que de repente, logicamente pode passar a ser tarefa penosa... Obrigação implacável. Isso mesmo! Implacável! Caminhos humanos de qualquer espécie parecem, frequentemente, possuir irônicos revestimentos. Talvez, o ponto da questão não esteja relacionado aos caminhos. Talvez seja referente, diretamente, à incapacidade de paciência dos autores perante o inesperado, o que justificaria o surgimento dos abismos da precocidade ou, melhor dizendo, o nascimento dos caóticos disfarces de conformismos. Nesse enredo enfadonho, foram jogados ao vento quantos parágrafos subestimados?
Ah! A essa altura, indiscutivelmente, a circunferência da vida já foi alterada, o apenas aparente já foi gerado e o espetáculo da intenção, num piscar, desenhou o estreito corredor da efemeridade... A estagnação de pensar saber o que seria “melhor”, nesta ou naquela performance, perseverou sobre a tímida intuição da verdade íntima. Um racionalismo irritante e limitado esmagou qualquer pretensão de espontaneidade e fluidez. Sim! O essencial foi desvalorizado e esquecido, já que o típico automatismo passou a reger a sinfonia da existência com a tenacidade de um déspota maestro de superficialidades!
 Rendidos!  Autores-atores rendidos. Simples assim! O patético nisso tudo é: o próprio enredo, com todas as suas prendas, parece nunca ser suficiente, e performances seguem sendo impostas como únicas opções. O interessante nisso tudo é: toda e qualquer performance possui um calcanhar de aquiles chamado tempo que, por sinal, se desdobra e acaba transformando-se em “tempo certo”. A duração da performance é destinada à mutabilidade e, em momentos de variação e descuido, o destino, fatalmente, surge no horizonte de todas as contradições e a despeito de todas as suposições pré-estabelecidas...
 O que se considerava importante perdeu terreno de uma vez por todas, porque a surpresa de uma singela revelação cresceu e iluminou, com toda a simplicidade de um despertar, o que estava obscuro.  É como quando se está na chuva: o guarda-chuva pode até estar aberto; entretanto, isso não impede que braços e pés sejam molhados. O guarda-chuva não garante absolutamente nada. Na verdade, a performance não consegue nem mesmo preservar sua própria imposição. Garantias não existem em parte alguma... Na próxima esquina, o guarda-chuva vai ser deixado na primeira lixeira. Vai ser melhor caminhar sem aquela falsa proteção. Pagar para ver pode ser mais encantador...
Quem foi que disse mesmo que a chuva estava fria? Não... a sutileza de cada gota d’água sobre a face trouxe a doce descoberta de um existir, sem a necessidade de mais nada. E aí, diante dos olhos, surgiu a tão sonhada sensação de completude! Chega um tempo em que se compreende que caminhos edificam apenas jornadas; não destinos. Destinos são, inevitavelmente, as pontes construídas por nós mesmos rumo a tudo que amamos!

                                                                                                                            ÍSIS NOTACAE