sexta-feira, 27 de setembro de 2013

"[...] o homem não é igual a nenhum outro
homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar."

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 9 de junho de 2013


QUISERA EU
 
Quisera eu ser gota de orvalho
mas, num suspiro súbito, escorro,
pranto sereno, lágrima caída...
 
Quisera eu ser orquestra
fina, melódica,
mas nem com sustenidos, nem com lá menor,
sussurro quase sem querer
um agudo de inexperiência,
e grito, em desejo persistente, um sol
que brota no peito
e alimenta a esperança...
 
Quisera eu ser somente
somente ser
somente eu
eu, eu mesma...
 
Num encontro de retinas,
num estalo de bem-querer,
num caminho sem volta,
numa ida sem fim...
rumo ao ser que sou,
que não fui
e que serei...
Ser a semente, a folha,
a flor, o fruto....
 
Quisera eu
ser mil
só de mim.
 
Ísis Notacae
 
 
 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Canção do dia de sempre
Tão bom viver dia a dia…
A vida assim, jamais cansa…
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu…
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência… esperança…
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas…

domingo, 24 de março de 2013

PARTE III
 
 
UMA CHANCE EM MIL
 
Safira sumiu
Leonel se escondeu
Um mundo a delinear
Um roteiro sem rumo
Um abismo sem fundo
 
Crer é pra quem sente
E, mesmo ausentes,
O olhar de um
Buscou a piscadela de outro
 
Desencontros inesgotáveis
Distâncias incompreendidas
Um triste entardecer
Na alma de quem um dia decidiu se perder
 
No assovio do vento
Vendaval se manifesta
No redemoinho da atitude
Poeira e fuligem
Acalentam o coração!
 
Tempo perdido não mais se recupera
Tempos idos não mais serão vindouros
Porém...
Na surpresa da força de um sentimento
Depois de muito descontentamento
A esperança de um novo encontro.
Amanheceu.
 
(ÍSIS NOTACAE)
 

 
MÚSICA DE LEONEL E SAFIRA
 
 
 
 



"Só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível para os olhos."
 
O Pequeno Príncipe-
Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Parte II

A ruptura

Suavidade não se produz
É equilíbrio entre desejo e comoção
É perfeito botão a desabrochar
Troca de instantes inesperados
Tradução do sentir ao tocar.

Leonel e Safira
Entre a liberdade da solidão
E o quiçá de um livre deslumbramento
Nem com um sim, nem com um não
Numa redoma criada
Cortina de fogo
Batalha na água
Centro da Terra em erupção
E sobre a incandescência prematura
Jogaram ao esquecimento
A distância que o tempo
Veterano, envolvente
Não julgaria fim
Não anunciaria volta
Mas guardaria,
diante de tamanha revolta,
A chegada do minuto certeiro
Aquele sem o nevoeiro
que abre portas à luz da candeia
que maltrata retinas
mas não instaura cegueira
e sugere o infinito de uma escolha...
ação
reação
[ a única colheita da racionalidade
a única expectativa da causalidade
o julgo da incerteza
miragem esculpida em surpresa]...
 
ÍSIS NOTACAE
 
 
 

Magma: a poesia de João Guimarães Rosa

 

A partir da travessia entrecortada nas tangentes da verdade íntima e da sinuosidade metafísica, João Guimarães Rosa, desenredando o novelo poético de sua ótica universalista, alcança, num desprendimento contemplativo, a dimensão cósmica do ser, tece estrelas em versos com contornos de mistério: espiritualidade e infinito!

 

De “Bibliocausto” a “Consciência Cósmica”, bon voyage:

 

 

Bibliocausto

 

E só ficará comigo

o riso rubro das chamas, alumiando o preto

das estantes vazias.

Porque eu só preciso de pés livres,

de mãos dadas,

e de olhos bem abertos.

 

João Guimarães Rosa. In: Magma

 

 

Consciência Cósmica

 

Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem deixar escorrer a força de dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
e deveria rir , se me retasse o riso,
das tormentas que poupam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...

 
João Guimarães Rosa. In: Magma
 
 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


 
 MÚSICA A LUZ QUE ACENDE O OLHAR, DE DEBORAH BLANDO
 
“A luz que acende o olhar
Vem das estrelas no meu coração
Vem de uma força que me fez assim
Vem das palavras, lembranças e flores regadas em mim
O tempo pode mudar
A chuva lava o que já passou
Resta somente o que eu já vivi
Resta somente o que ainda sou
A luz que acende o olhar
Vem pelos cantos da imaginação
Vem por caminhos que eu nunca passei
Como se a vida soubesse de sonhos que eu nunca sonhei
Vem do infinito, da estrela cadente
Do espelho da alma
Dos filhos da gente
De algum lugar
Só pra iluminar
A força vem de onde eu venho
De tudo que acende e a vida calada
Me olha e entende o que eu sou
A luz que acende o olhar
Vem dos romances que viram poesia
Vem quando quer, se quiser, se vier
Vem como um passe de pura magia
Vem da luz que acende o olhar
Vem das histórias que me adormeciam
Vem do que a gente não consegue ver”
 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"Sartre nunca pensou em uma noção de liberdade que não fosse exatamente esta: a liberdade só se faz presente no momento da decisão. Não há o "espírito de liberdade". A liberdade é o ato de decidir, de negar uma possibilidade e afirmar outra. Esse ato consubstancia a liberdade; não importa para qual lado a decisão penda, o ato que faz a própria liberdade ocorrer é o de decidir. Terminado o ato, a liberdade desaparece novamente, para ressurgir no ato seguinte." In: História Essencial da Filosofia, 2010, p.82.

sábado, 26 de janeiro de 2013


Parte I

 
O encontro de Leonel e Safira

 

Ajustados corpo a corpo
Ali
À janela
À linha do horizonte
À espera do entardercer
História e memória
Futuro narrado.
 
Ladrilhados no travesseiro dos braços
Sonhos compartilhados
Olhar direcionado
Esperança aquecida
Palpitações e sorrisos
Afeições e suspiros.
 
Perdidos nos instantes de contemplação
Sintonias cravadas em intenções
Caminhos de vida, formas de amar
Lançados aos pedidos de atenção
Entorpecidos pelos riscos do gostar.
 
Entrega e busca se confundem...
Entre as pontas dos dedos
O tocar da suavidade...
No entrelaçar das mãos
A partida da desilusão
O desabrochar da temperança...
 
Ladeira abaixo
Relatos e confissão
Reconhecimento vem de dentro
Confiança vem de perto
Ali
Sentados lado a lado
Sem tropeços, sem ilusão
A lua beija o riacho
Sinfonia de noite e constelação.
 
O canto da paixão
Ganhou asas ao luar
E com cuidado e carícias
Plantou-se, em céu estrelado,
Junto à surpresa do destino,
O despertar da união
Sem promessas nem garantias.
 
O que vale é a lealdade da rendenção!
Leonel e Safira,
Inscritos no livro da vida,
Decidiram juntos
Pousar na emoção
Dar asas às súplicas do coração!
 

ÍSIS NOTACAE

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ESPELHO 

Takuboku Ishikava, poeta japonês:

 
 

Fumaça que se desfaz no céu azul
fumaça que se desfaz melancolicamente
meu espelho

Quando me olho o que vejo? Fumaça, já que toda imagem se desmancha, escorre pelos desvãos do tempo. Quando me olho há uma do lado de fora, há muitas do lado de dentro.
O que sou quando alguém pronuncia meu nome?
O que sou dentro dos olhos do outro, às vezes meu espelho?